segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A ÁRVORE SERVIÇAL


Era uma velha e frondosa mangueira. Ela era tão velha, que seu tronco grosso se elevava a grande altura e seus galhos cobertos de brilhantes folhas verdes se estendiam em todas as direções, formando uma copa redonda como a saia de uma baiana. No verão ficava carregada de mangas coloridas e saborosas.
Danilo era um menino, ainda muito novo. Tão novo que, quando viu a árvore pela primeira vez, mal tinha começado a andar. Seus olhinhos vivos eram cheios de encantamento pela beleza da vida e tinha o sorriso puro e alegre daqueles que só recebem amor.
O dia em que o menino encontrou a árvore, foi um dia memorável! Ele veio caminhando, entrou debaixo das fo­lhas, olhou aquela imensidão de verde e bateu palmas de alegria. Ficaram amigos. A árvore ofereceu ao menino a sua sombra e seus galhos para brincar. Os dois conversavam muito sobre as coisas da vida que só os amigos conversam.
E o menino foi crescendo. Subiu primeiro nos galhos mais baixos, depois nos mais altos, sempre mais altos, até que, um dia, conseguiu atingir o topo da manguei­ra. E ficou maravilhado com o que viu! Dali do alto dava para ver todo o pomar e para além dele os campos verdejantes, cheios de árvore e plantas, e, bem ao longe, as altas montanhas que pareciam azuladas.
- Como o mundo é grande e belo! Quero conhecê-lo! - exclamou o menino.

Então, muitos dias e meses se passaram. Outros verões vieram e o menino suspirava tristemente quando vinha ver a árvore. E a mangueira lhe perguntou:
- Por que anda tão tristonho, amigo Danilo? Qual é o problema?
- É que eu preciso deixar o sítio e ir morar na cidade para poder continuar estudando, minha amiga.
- Vou sentir saudades também! Mas veja, você está crescendo e é hora de ir conhecer outros lugares. Isso é bom! Quando você sentir muita saudade, pode voltar aqui! - a mangueira tentou consolar o amigo.
- Mas tem mais uma coisa, amiga Mangueira, é que eu preciso ir para a cidade estudar e não tenho dinheiro suficiente!
- Ora, amiguinho, problemas existem para serem resolvidos. E sei o que juntos podemos fazer para resolver esse problema. - disse a árvore.
- Então me fale - perguntou meio que aflito o menino.
- Olhe para os meus galhos, veja quantas mangas saborosas! Colha as mangas e depois venda-as e vai ajuntando um dinheirinho. Tenho certeza de que vai ajudar bastante quando você estiver lá na cidade.

E assim aconteceu e o menino foi morar na cidade. Muitos anos se passaram e a velha mangueira balançando seus galhos pa­recia suspirar de saudades do seu amigo menino. Chegou mais uma primavera e a mangueira tornou a ficar florida. Foi nes­sa época que, já crescido, Danilo voltou. E a mangueira logo reconheceu o amigo:
- Amigo Danilo, como você cresceu! Quanta saudade! Você agora é um homem! Como é, está feliz?
- Quase, velha amiga, quase! - suspi­rou o rapaz. Sabe, quando eu ia chegando aqui no sítio e ainda lá de longe vi você toda coberta de flores, parecendo uma noiva, lembrei-me que quero casar e ter uma bonita família.
- E por que não se casa? - perguntou a árvore.
- Porque ainda preciso terminar a casa que estou construindo para morar e não tenho mais recursos - disse o rapaz subindo nos galhos da mangueira e livrando-a do incômodo de uns galhos secos e quebrados.
- Ora, amigo, olhe para mim, veja quanta madeira eu tenho! Suficiente para você fazer as portas, as janelas e as vi­gas para o telhado da sua casa. Pode usar um pouco da minha madeira para termi­nar a sua casa. É a maneira que eu posso ajudar a um velho e querido amigo!
- Cortar você? - pergunta o jovem amigo muito assustado.
- Claro, amigo, de que servem minha beleza e meus frutos se meu melhor ami­go não é feliz? Corte-me, vamos! Use-me para construir sua felicidade.
O rapaz não pôde aceitar. Descobri­ria outro jeito para realizar seu sonho, O rapaz voltou para a cidade e a mangueira ficou aflita, torcendo pelo seu sucesso.
Muitos anos se passaram. E de vez em quando a mangueira suspirava de sauda­des de seu amigo!
E um dia, quando o inverno voltou, um homem idoso se aproximou em passos lentos e cansados. Parou perto da velha e bondosa mangueira, encostando-se em seu tronco e dizendo-lhe:
- Olá minha amiga, mangueira, quanta saudades senti de você!
- Oh! Meu amigo, você voltou! Sente-se e descanse. E me conte uma coisa: você terminou de construir sua casa? Casou-se? Me conte tudinho!
- Terminei a casa, sim. Como você, outros amigos também me ajudaram. Casei e tenho uma bela família.
- Que bom! Eu também tenho muito o que contar! - disse a mangueira toda animada.
E assim foi. Durante uma tarde inteira o homem e a árvore voltaram a conver­sar, alegres e saudosos, coisas que só os amigos conversam.


Autora: Professora Phillys Reily

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