segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

MEU AMIGO JAMBEIRO


Sou um admirador da natureza. Água, terra, animais, plantas... toda a natureza significa muito para mim. De todas as árvores, a que mais gosto é o Jambeiro. O Jambeiro, de longe com sua forma geométrica triangular, parece só ter folhas. Por natureza o Jambeiro tem uma folhagem fechada e densa. Quem quiser ver as flores e os frutos do Jambeiro, tem que conviver com ele, ser íntimo dele, chegar perto dele. Aí, olhando para dentro dele verá a florada mais linda, sentirá o perfume e saboreará do seu polpudo fruto.
Da varanda do apartamento que morávamos em Maceió-AL, meus olhos podiam contemplar vários Jambeiros, e isso, é claro, proporcionava-me grande prazer! Mas, em especial um Jambeiro chamava-me a atenção, pois, além de ficar na rua bem em frente ao prédio que morávamos, passava sob ele diariamente a caminho do trabalho ou do comércio local. Foi assim que nos tornamos amigos. Quase todos os dias levantava-me pela manhã e logo que chegava na varanda, lá estava meu amigo saudando-me com um bom dia cheio de esperança, pois, se verde é a cor da esperança, era com suas folhas verdes que ele me saudava. Quando chegava a época da florada, santa anunciação dos frutos, que eram várias durante o ano, sob si o Jambeiro construía um belo tapete rosado, lindo! Maravilhoso! Que durava vários dias. Era um espetáculo indescritível olhar da varanda e contemplar aquele quadro da natureza, onde o rosa das flores sobre o chão, contrastava com o verde das folhas, enchendo-me os olhos e a alma de prazer!
Numa manhã, quando passei debaixo do meu amigo Jambeiro, percebi um movimento diferente de homens no quintal onde vivia. Não demorei voltar e percebi que aquele movimento não era um movimento amigável de outros amigos como eu. Na verdade, era um movimento mais parecido com movimento militar, movimento armado, movimento de morte! Conversavam, planejavam, ordenavam uma ação que revelou-se uma ação devastadora. Cercaram o meu amigo, nas mãos armas de vários calibres e covardemente acuaram-no, indefeso, desarmado! Imagino que toda aquela estratégia, fora cuidadosa e minuciosamente planejada. Esperar passar a florada, colher e comer os frutos e depois... ATACAR! Por certo, acreditavam que meu amigo usaria suas armas. Poderosas armas! Que armas? Suas flores e frutos! Agora cercaram-no, indefeso e sem arma! Mutilaram-lhe, primeiramente, os galhos. Aqueles mesmos galhos, que juntos formavam aquela figura geométrica triangular linda! Galhos cheios de folhas viçosas e brilhantes! Aqueles mesmos galhos que, como mãos estendidas, espalhavam suas flores sobre o chão cinzento, colorindo-o de rosa e sendo notado por todos. Aqueles mesmos galhos que, como mãos estendidas, depois de oferecer as flores, qual mãos sacerdotais, ofereciam seus frutos. Agora os galhos cortados, sem seiva, sem vida, estavam amontoados do lado do tronco principal. Depois, não satisfeitos com toda aquela mutilação, golpearam-no a um metro e meio do solo, na altura do coração e derrubaram o seu lindo tronco! O mesmo tronco que, além das flores e dos frutos que produzia, sustentava solidariamente os galhos para que esses exibissem sua folhagem e anunciassem a sua própria identidade. Amarraram o tronco com cordas por todos os lados, antes de golpeá-lo! Estavam com medo de que por vingança, o meu amigo, agonizante Jambeiro, atacasse as janelas de vidro ou derrubasse o muro. Finalmente, resolveram dar o golpe derradeiro e fatal: Arrancar o toco com suas raízes! A estratégia daqueles soldados da morte, consistia em aniquilação sem nenhuma possibilidade de sobrevivência. E, assim, se fez! Arrancaram tudo, pois sabiam que aquela árvore boa, mesmo sem tronco e galhos, ao primeiro cheiro de água e de seiva, voltaria a brotar, a crescer e a frutificar. A Bíblia diz isso: “Porque há esperança para a árvore, pois mesmo cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus rebentos. Se envelhecer na terra a sua raiz, e no chão morrer o seu tronco, ao cheiro das águas brotará e dará ramos como planta nova.”(Jó 14.7-9) Cheguei a pensar, que aqueles soldados da morte conheciam bem este texto sagrado, e por isso mesmo, não queriam deixar nada que pudesse sentir o “cheiro das águas” para reviver! Por fim, naquele espaço da Mãe Terra que gerou e durante anos sustentou o filho Jambeiro, cobriram com massa de cimento e depois de recolherem os restos mortais do meu amigo, saíram cantando vitória.
Dia triste aquele! Senti-me mal, muito mal por não poder fazer algo em defesa de meu amigo, pois, ao contrário do que Deus planejou, os homens inventaram a propriedade privada, o bem pessoal e até inventaram órgãos que se transvestem de deuses que dão autorização para matar esta ou aquela árvore. De posse desta “autorização”, o “proprietário” pode contratar qualquer soldado para fazer o “serviço”, e, ninguém tem o direito de se opor.
Nunca mais a varanda de nosso apartamento foi o mesmo. Desde aquele dia, Maceió ficou menos bonita e eu com um amigo a menos!
Posteriormente, fiquei sabendo da grande e única motivação para todo aquele morticínio. O “proprietário” estava insatisfeito com a “sujeira” provocada pelas flores do Jambeiro e pela “cobiça” que seus frutos provocavam. Torpe, imbecil e pecaminosa motivação! Insana solução para o “problema”! Muitas vezes a insensibilidade decreta e impõe a pena de morte ao belo, ao saboroso, ao prazeroso, ao colorido... Como foi o caso do meu amigo Jambeiro! Mas saiba amigo Jambeiro, que muitas sementes que você gerou, brotarão e produzirão muitos tapetes rosados e muitos frutos gostosos e, você reviverá em cada um deles! Isso os estrategistas da morte esqueceram!!!

Gilmar C. Rampinelli

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