quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

FÉRIAS 1




Coisa boa é parar num tempo de férias!

Assentado à beira mar, em Itaóca, Espírito Santo, olhando o vai-e-vem das ondas, o movimento sincronizado das gaivotas e as pessoas ao redor, cheguei a algumas conclusões sobre o tempo e a pressa.
Observo pessoas, as mais diversas: jovens, velhas, homens, mulheres, adolescentes, crianças, brancas, negras, índias, gente sarada e outras como eu nem tanto, mas todas sem nenhuma pressa, sem nenhuma correria. As férias tem esse poder mágico de fazer as pessoas desejarem uma letargia do tempo. E não é só isso, observo o quanto férias à beira-mar é igualitária: banhando-se na mesma água e brincando na mesma areia estão homens, mulheres, crianças, adolescentes e jovens de raças e classes sociais tão diferentes, de formação cultural, educacional e intelectual tão diferentes. Fico imaginando se não era essa a razão de Jesus gostar tanto da beira do mar, ou quem sabe, não formaríamos a igreja perfeita do ponto de vista relacional nesse espaço tão comum.
O tempo à beira-mar é preguiçoso e cada minuto é saboreado ao vento e cada segundo é sorvido até a última gota do santo ócio.
Interessante também como as pessoas conversam na areia da praia ou com o corpo mergulhado brincando com as ondas. Ninguém começa um bom papo dizendo a sua profissão ou ocupação geradora de renda. Igualmente, ninguém começa um bom papo apresentando sua credencial hierárquica. Um bom papo na praia, geralmente começa com assuntos prosaicos e considerados fúteis, provocados por encontros de guarda-sol, crianças trocando brinquedos, a espera de ser servido na fila de um churrasquinho, uma bolinha de frescobol que caiu na área do vizinho, etc. Por falar nisso, não sei o nome da maioria das pessoas com quem conversei na praia durante esses dias, de repente não saber o nome seja também uma maneira de esquecer a realidade do tempo que corre contra nós.
Outra maravilha das areias de uma praia é o tempo de cuidado com a saúde. Todas as recomendações médicas sobre colesterol e triglicerídeos, ficaram trancadas na casa do trabalho. Nutricionistas e seus conselhos são vistos como demônios na orgia culinária da beira-mar. Assentado á beira-mar podemos e devemos comer todas as frituras, todas as guloseimas, todos os açúcares, todos os salgadinhos (que só Deus sabe onde e que condições são feitos), todos os queijos empanados, todos os churrasquinhos... nunca ninguém morreu nesse tempo de comer sem pressa.
A praia é também o local mais democrático e humanista de exposição de corpos. A praia é o lugar que esconjura passarela e exalta o corpo comum. Ninguém é tão gordo que não possa estar na praia, ou magra, ou baixa, ou alta, ou corcunda, ou barriguda, ou descabelada... o sol e a areia acolhem a todos.
É uma pena que para a maioria de nós, esse tempo sem pressa na praia acontece só uma vez por ano!

Nenhum comentário:

Postar um comentário